Logística Sustentável ou Verde
A “Logística Sustentável ou Verde” tem como objetivo principal atender aos princípios de sustentabilidade ambiental, considerando a responsabilidade do “berço à cova” ou do “berço ao berço”. Na responsabilidade do “berço à cova”, quem produz deve responsabilizar-se também pelo destino final dos produtos gerados, de forma a reduzir o impacto ambiental que eles causam, incinerando-os ou dispondo-os em aterro sanitários.
No entanto, já existem críticas a esse modelo, que vem sendo substituído paulatinamente pela responsabilidade “berço a berço”, a qual propõe que a sociedade continue a consumir e a se desenvolver, porém, invés de destruir o meio ambiente, deve-se alimentar o ciclo biológico da Terra (lixo=comida) e o ciclo tecnológico das indústrias. Neste contexto, o que não puder ser utilizado como nutriente/comida para o meio ambiente, deverá ser quebrado em elementos que possam ser reabsorvidos pelas indústrias como matérias-primas de qualidade.
O conceito proposto por McDonough e Braungart e chamado de “Cradle to Cradle”, pressupõe que o conceito de gestão do ciclo da vida do berço à cova não pode mais ser considerado viável economicamente e ambientalmente é muito menos eficiente, pois é nitório que muitos resíduos possuem possibilidades de revalorização e reinserção nos processos produtivos e/ou de negócios e não devem simplesmente ser incinerados ou dispostos em um aterro sanitário.
Ademais, o gerenciamento logístico tem como foco a integração das atividades da empresa, pois considerando-se que todas estas atividades fazem parte de um processo único, cujo objetivo é satisfazer as necessidades do cliente final, não há razões para gerenciá-las separadamente incorrendo em riscos desnecessários à empresa.
Por sua vez, a cadeia de logística integrada possui basicamente quatro áreas de atuação: logística de suprimentos, logística de produção, logística de distribuição e, mais recentemente, a logística reversa, conforme demostra a figura. Cada uma dessas sub-áreas inclui de forma distinta a variável ambiental em seus processos.
Conforme pode ser verificado na figura, cada uma destas áreas tem uma função específicas e primordial na criação de valor para o clientes e buscam conjuntamente o alinhamento dos processos de negócios, em cada uma delas a variável ambiental pode ser inserida nas atividades tradicionais, conforme exposto a seguir.
Na logística de suprimentos ou de entrada (inbound) ocorre a operacionalização das relações entre empresa (cliente) e seus fornecedores de produtos ou serviços. Sob o aspecto ambiental é nesta sub-área que se inserem as atividades de seleção de fornecedores e as compras sustentáveis, que passam a considerar indicadores apropriados para este fim, dos quais podem ser citados:
- Utilização a análise de ciclo de vida para avaliar o impacto ambiental de produtos e embalagens.
- Existência de objetivos ligados à redução de geração de resíduos.
- Participação nos projetos de logística reversa (descarte, coleta, reuso, reciclarem).
- Programas de Logística Reversa.
- Consumo de energia e água.
- Emissão de gases e redução da poluição.
- Planejamento e políticas ambientais.
- Certificados ISO 14001.
- Tecnologias limpas disponíveis.
- Uso de materiais e embalagens ambientalmente corretos.
- Utilização de frota de veículos movidos a bio-combustíveis, energia alternativa e híbridos, elétricos.
Por sua vez, a logística de produção administra todos os recursos e áreas na conversão de materiais em produtos acabados. Sendo assim a utilização da Produção mais Limpa – P + L pode ser inserida nessa sub-área. Dessa forma, projetam –se os processos produtivos e de apoio logístico para que sejam gerados menos resíduos, ou seja, há um planejamento anterior à produção para que haja menos refugos e rejeitos e, além disso, procura-se programar a utilização de materiais nos processos produtivos e logísticos que sejam menos prejudiciais ao meio ambiente e mais fáceis de reciclar e se decompor no meio ambiente. Ademais, também nessa sub-área pode-se estudar a utilização da incineração dos resíduos para geração de energia a ser consumida nos processos produtivos e uso de tecnologias que produzam o onsumo de energia e água.
A logística de distribuição ou de saída (outbound) envolve as relações entre empresa e seu consumidor final e abrange principalmente as atividades de armazenagem, manuseio e transporte. Nesse sentido, a instalação de armazéns em localizações estratégicas visando reduzir o trânsito dos produtos; a economia de água no processo de recarga de baterias para empilhadeiras, na lavagem de caminhões, na limpeza de paletes e piso; a utilização de frotas de veículos movidos a bio-combustíveis, energia alternativa, híbridos, elétricos e que possuam sistemas de controle de poluentes podem ser adotados a fim de reduzir os impactos ao meio ambiente.
Por fim, a logística reversa completa o ciclo logístico, operacionalizando o retorno dos bens de pós-venda e pós-consumo ao ciclo produtivo e/ou de negócios. Torna-se visível que ao final de todos os processos logísticos realizados são descartadas quantidades enormes de materiais, sejam estes resíduos industriais, materiais de embalagem, produtos devolvidos pelos clientes com uso ou sem uso, peças decorrentes de manutenção de máquinas, veículos e equipamentos, materiais de escritórios, entre outros.
Estes materiais não podem mais ser simplesmente dispostos em aterros sanitários, principalmente considerando-se o que dispõe a Lei 12.305 da Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, sancionada em 2 de agosto de 2010 e regulamentada pelo Decreto 7.404 de 23 de dezembro de 2010. Esta lei dispõe, entre outras coisas, sobre a obrigatoriedade de sistema de logística reversa para fabricantes, importadores, distribuidores, varejistas, consumidores de diversos segmentos, tais quais: pneus, pilhas e baterias; agrotóxicos; lâmpadas; óleos lubrificantes e eletroeletrônicos, além de embalagens em geral.
Assim, quando se adota a logística sustentável, em suas quatro sub-áreas: suprimentos, apoio à produção, distribuição e reserva, além do atendimento a legislações ambientais agregam-se valores de diversas naturezas:
- Econômico, pois reduz a utilização de recursos naturais; se evita o pagamento de multas e a paralisação das operações devido a penalizações legais; obtém-se economias com a utilização de materiais e embalagens reciclados e; obtém-se receitas com venda de resíduos; aumento da receita por abranger uma nova fatia do mercado, a dos “consumidores verdes”.
- Competitivo, as empresas que adotam a logística sustentável diferenciam-se dos concorrentes, em algumas negociações, principalmente em mercados internacionais, a inclusão de práticas ambientalmente corretas é fator predominante em negociações.
- De imagem corporativa, as empresas que incluem processos logísticos sustentáveis em sua estratégia de negócios ganham pontos positivos na sua imagem quando se considera a percepção do consumidor. Muitos consumidores denominados “verdes”, preferem empresas ambientalmente responsáveis àquelas que não são, concordando muitas vezes em pagar mais pelo produto ou serviço ambientalmente correto.
- Ambiental, incluindo a logística sustentável em seus negócios a empresa contribui para a manutenção e preservação do meio ambiente e dos recursos para as futuras gerações.
Cabe também ressaltar que atualmente as empresas não competem mais individualmente entre e sim entre cadeias de suprimentos. Dessa forma emerge o conceito de gerenciamento da cadeia de suprimentos verde, o qual vai além da logística sustentável, abrangendo e alinhando os processos de todas as empresas envolvidas em uma determinada cadeia de suprimentos com processos ambientalmente corentos.
Fonte: Revista Mundo Logística